Vivemos tempos difíceis, mergulhados numa crise económica sem precedentes, um clima crescente de desconfiança nas instituições, um ambiente social cada vez mais insustentável, a que agora se juntou uma crise politica oficial, uma vez que na minha opinião os políticos como classe estão em crise há muito tempo. Nunca como actualmente se teve tanto medo do presente, e tão pouca disposição para sonhar um futuro melhor, o cinzento ganha cada vez mais cor na mente e nos dias de todos. Acho que todos conhecemos razões para a sociedade em geral ter chegado a este ponto, e racionalmente todos temos de admitir a quota parte de culpa neste desmoronar de um modo de estar que parecia ter tudo para dar certo. A forma desleixada e pouco rigorosa com que lidámos com o tempo das vacas gordas (se considerarmos que em Portugal as chegou a haver), os anos sucessivos em que nos fomos enganando a nós próprios com a ideia de que estávamos a recuperar décadas perdidas, quando agora percebemos como por cada passo em frente dado, davam-se 3 ou 4 para trás. Muitas vezes mal governados, mal geridos, enganados sobre a real situação, constantemente a “pagar a factura “ de derrapagens orçamentais e politicas falhadas, esquemas, escândalos e reféns de um sistema judicial que pura e simplesmente não funciona, criando este clima de impunidade que tira credibilidade a tudo e todos. Um pais pequeno em tamanho e no entanto capaz de criar problemas gigantes e dar tiros nos pés que inevitavelmente atingem sempre os mesmos rostos cansados e cada vez mais perto do limite do sustentável. Estamos no limiar do valer quase tudo pata salvar a pele, do salve-se quem puder, e isso é terrivelmente assustador, esta ausência de um rumo, de acreditarmos que alguém de entre aqueles que têm lutado pelo poder, tem capacidades e condições para dar a volta a isto, mais do que a falência dos bancos é a total falência de valores. Todos somos culpados, porque todos ao longo de anos e anos sustentámos o crescimento deste vazio, sem nunca parar para pensar, não resistindo a viver tantas vezes acima das reais possibilidades, no fundo fazendo nas nossas casas o que os governantes faziam ao pais, pintando um cenário de mil cores que agora se perde neste cinzento sombrio. É a crise que tomou conta de todos os assuntos, um momento duro que veio para ficar por tempo largamente indeterminado, e pior de que todos os receios inerentes, é a triste sensação que poderá não ser desta que vamos pensar sobre todos os erros cometidos e criar uma base forte que impeça que tal possa vir a repetir-se, mas sim remediar da melhor maneira a crise actual, tentado aguentar até à próxima, de preferência num lugar que nos permita sacudir a agua do capote depois. É um filme visto e revisto por gerações e gerações, à rasca ou menos à rasca temos todos de deixar cada vez mais o conforto da plateia, das palmas por arrasto e dos assobios por tudo e por nada, e passarmos para o palco, assumindo riscos e tendo ideias, lutando por convicções e não ficar na zona segura do “ eu bem avisei”…