Os finais de ano são pródigos em balanços, retrospectivas, filmes de 365 dias que no fundo são sempre cheios de tudo um pouco. Mesmo inadvertidamente todos temos tendência a cair nesse hábito de parar para pensar nas voltas que a vida deu um ano depois das dozes passas de doze meses atrás. Na minha viagem ao longo do ano que agora se despediu encontro muita coisa boa, bons momentos, lugares, pessoas importantes, fecho os olhos e sinto-me recompensado em tantas horas, satisfeito com o que dei e aquilo que recebi. Foi um ano positivo, de crescimento, de maturação de ideias, de sentimentos, de um mundo que é o meu ao qual fui fiel nos actos e no carácter. Regressei tantos anos depois às origens, aos lugares de uma infância que em tanto fez de mim aquilo que sou hoje, estive no dia do regresso do meu clube aos títulos, no Estádio, naquela noite memorável do Marquês de Pombal, fui operado num momento delicado em que não me faltou a coragem e a certeza de um passo que mudou a minha vida para sempre. Nestes balanços existe sempre a tendência de realçar grandes coisas e esquecer que é tão importante ter a saúde e a força necessária para viver todas as pequenas outras que fazem parte de todos os dias, de quase todos os anos. Estar com a família perto, com os amigos de sempre, acordar e ter trabalho, ter a possibilidade de se fazer algo que se gosta com pessoas extraordinárias, entrar num balneário e falar nos olhos de um grupo de crianças que tem uma alma soberba, tantos pequenos / grandes gestos de sempre que os pudermos continuar a fazer são das melhores coisas de cada ano. Nem tudo foi bom neste 2010, nem poderia ser, no meu caso pessoal marcado fundamentalmente por um duro golpe em muito do que eu fui acreditando ao longo dos anos. Pessoas que num ápice podem descer aos trambolhões na hierarquia das mais importantes nas nossas vidas, e desses golpes nunca estamos à espera. Quando achamos que conhecemos alguém, anos de vida partilhados ao máximo do imaginável, que são jogados no lixo, manchados com dor por actos e palavras impensáveis, por silêncios ensurdecedores que cimentaram um cenário que há apenas uns meses seria difícil de supor. Foram dias tremendamente difíceis, perceber que afinal não somos assim tão perspicazes como julgamos, que existem jogos hediondos em que pessoas brincam com sentimentos e em que o carácter foi posto de lado de uma forma fria e sem sentido. No fundo acho que é nestes acontecimentos menos bons que realmente podemos perceber a massa de que somos feitos e escolher um caminho, entre o entrar nesse esquema ou seguir o nosso caminho com a certeza de que a vida se vai encarregar do resto.
Não apenas de balanço se fazem estes dias, é sacramental fazerem-se desejos, as resoluções para os doze meses que se seguem. Acredita-se firmemente que tudo vai ser melhor, que não se vão cometer os mesmos erros, que o euro milhões é uns forte possibilidade, que vamos ser promovidos, deixar de fumar etc. É um renovar generalizado da esperança, e no caso deste ano bem precisamos dela, face ao cenário catastrófico que todos os dias os telejornais nos mostram, com aumentos de tudo e mais alguma coisa, menos dos números das nossas contas bancárias. Tenho para mim que este pais está em crise não apenas económica, mas fundamentalmente de valores e de alguém em que possamos acreditar. A descrença numa classe politica banal e num sistema judicial que por e simplesmente não funciona vai aniquilando um pais à beira mar plantado que tem tudo para dar certo e não dá.
Eu que me despedi do ano velho nos braços de uma bela…gripe entro no novo ano com a ilusão mais alta do que a febre, o acreditar mais forte que a tosse, a chama e o querer mais intensos que as dores de garganta, cheio de vontade de lutar em cada dia para que as coisas possam correr bem a mim e a todos os que me dizem algo, aqueles que tenho o privilegio de saber que os anos no calendário mudam e eles estão sempre aqui….bom ano novo pessoal